A Redação do Portal Santa Teresinha recebeu a informação que um artista nômade fez uma apresentação na semana passada no Assentamento Dom Expedito (Capesa), no município de Santa Terezinha (PB), Região Metropolitana de Patos.
Apurando a informação, conseguimos identificar Rogério Piva, um artista natural da cidade de São Paulo (SP), vindo de uma periferia da zona sul, onde teve acesso a arte através de projeto social. A partir daí começou a trabalhar fazendo malabares nos sinais de Interlagos, bairro nobre da capital paulistana e trabalhando em pequenos circos. Chegou a trabalhar em escritório, iniciar um curso superior, largando tudo, para seguir o seu sonho, ser um artista circense. Voltou a trabalhar em circos em turnês pelos estados e depois a primeira viagem internacional ao Chile que começava a sua odisseia pelo mundo, percorrendo 37 países, tornando-se referencia no malabares.
No ano de 2020 decidiu democratizar o acesso da arte e trabalhar nas pequenas comunidades com um fusca pelas comunidades rurais do Nordeste e do Norte, sem rumo, chegando de surpresa em lugares com dificuldades de entretenimento, não esquecendo-se de fazer um convite a muitos questionamentos abordando temas como: Machismo, homofobia, racismo poder do acesso a arte o quanto ela é transformadora.
Uma mulher de nacionalidade russa o acompanha porque está gravando um vídeo documentário que retrata a sua maneira de fazer arte, saindo dos grandes circos e optando por fazer trabalhos nas comunidades.
O artista vive exclusivamente das doações do chapéu (Lugar que as pessoas depositam dinheiro como oferta), que além de dinheiro, recebe frutas, comidas, banhos e dormida.
Ele disse que tentou contato com a Prefeitura de Santa Terezinha, mas não obteve retorno, não se surpreende porque esses órgãos quase não apoiam a sua arte que poderia ter um suporte maior e alcançar mais pessoas.
Sobre a passagem pela Capesa, ele denominou como turbulenta e linda ao mesmo tempo. Relatou que um cidadão não quis a sua apresentação, ficou triste, saiu do lugar, mas pensou em divulgar a arte e recebeu o apoio de outras pessoas.
“Como eu chego de repente, muito de repente nas comunidades, claro que assusta, mas a ideia é essa, romper com o estranho, será que temos que estar sempre na defensiva? Será que o nosso país é tão perigoso a ponto de qualquer um ser um assassino? As pessoas não me conhecem, ficam com receio, isso é normal, mas a ideia é essa, chegar em um fusca, na simplicidade rompendo um pouco com isso. Na Capesa foi um pouco delicado, eu nunca passei por isso, tentei conversar com uma pessoa e não deu credibilidade, apesar de mostrar meus documentos e meu portfolio, mas sem sucesso. Eu me alimento de energias boas e quando chego em uma comunidade que tem uma pessoa que passa energia negativa, desmotiva um pouco. Cheguei a deixar o local, mas dei meia volta, conversei com outras famílias e o cara disse que não podia fazer bagunça na rua, daí sai e na estrada voltei novamente recebendo o apoio de outras famílias. Eu fiz o show, foi lindo, mas não chegou a toda comunidade. foi recebido por uma casal que levarei na minha mente”, destacou.
Ele apresentou-se em 2014 para o Papa Francisco.
“Estava trabalhando na Itália, em um grande festival. Deste festival em Roma, fui selecionado com outros artistas para fazer uma apresentação no Vaticano para o Papa Francisco, em 2014. Atrás de mim estavam dez mil pessoas e no final o Papa nos deu um Terço e falou que nós artistas somos missionários da paz da fraternidade, que o mundo precisa da gente, precisa de arte, mesmo que o mundo não saiba”, disse.
Ele chegou a se apresentar em vários programas de TV, por exemplo, Programa do Ratinho, transmitido pelo SBT.
Perguntado como é a sensação de Levar cultura tão rica a um público que não tem acesso à magia do circo. Ele respondeu assim:
“Na maioria dos casos no Brasil e eu digo por mim vindo da cidade de São Paulo, uma cidade incrível, mas o mapa de acesso a projetos culturais é muito desigual, a gente fica sempre limitado a uma bolha, a um grupo privilegiado economicamente e geograficamente e as periferias ficam abandonadas a própria sorte. É muito triste, sou vítima, mas tive a sorte de ter um projeto social que me deu oportunidade de ter acesso a arte. A arte é uma das ferramentas muito importante na educação, no pensar, no questionar. Quando não tem esse investimento, a arte trazendo essa humanização, mas falo da verdadeira arte e não da indústria da arte que ajuda a criar seres estúpidos. Exemplo da verdadeira arte é Luiz Gonzaga que colocava em suas reflexões o povo como protagonista falando da realidade do sertanejo. A gente vive um país muito desigual, acredito que projetos de acesso a cultura iria garantir mais pensadores nesta sociedade”, destacou.
Nesse final de semana, ele visitou os amigos e fez show no circo que esta em Patos, deu entrevista a TV SOL e se apresentou em uma praça. Também realizou apresentação na cidade de Emas.
Ele pretende escrever um livro para contar a sua jornada da arte pelas regiões do Nordeste e do Norte.
As pessoas que desejarem acompanhar o seu trabalho, pode seguir seu Instagram e acessar o seu site: @rogeriopiva.malabarista e www.rogeriopiva.com.