Após dois anos sem registros de internações na Paraíba, a malária voltou com força em 2019. Em apenas seis meses, 11 casos da doença já foram registrados no estado. De acordo com o Painel Saneamento Brasil feito pelo Instituto Trata Brasil, de 2010 a 2017 (até onde vai o estudo), foram registradas 43 internações devido à enfermidade, sendo o primeiro ano com a maior incidência (23).
Em 2011 foram sete internações; em 2012 ocorreu uma; em 2013, oito; nenhuma em 2014; três em 2015; uma em 2016 e nenhuma em 2017. Já de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (SES), em 2018 também não teve nenhum caso.
Ainda segundo a SES, casos autóctones (em que os casos da doença ocorreram dentro dos limites do lugar sob investigação) na Paraíba só ocorreram nos anos 1970.
11º caso
O homem, de 44 anos, foi atendido no Hospital Universitário Lauro Wanderley, em João Pessoa, e é a 11ª vítima da doença, cujos casos têm sido registrados somente nesse município desde abril deste ano.
A assessoria de comunicação do HULW informou que o paciente teve que ficar internado no hospital. Além dele, outras três pessoas continuam no local, também em tratamento da malária. O quadro de saúde de todos os pacientes internados é considerado estável.
Por meio da assessoria de comunicação, a Secretaria de Saúde de Conde informou que as ações de combate à malária continuam no município, com medidas como busca ativa de pacientes, testes rápidos e distribuição de repelentes.
Secretaria reconhece surto
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) admite que o estado está vivendo um surto da doença. A hipótese mais considerável da Vigilância Epidemiológica do Estado é que algum turista proveniente de uma região endêmica da malária tenha chegado doente ao município.
“Na Paraíba temos a presença, em quase todos os municípios, do mosquito transmissor da malária. O que é mais provável de ter acontecido é que alguém adoecido chegou a Conde, foi picado pelo mosquito sadio aqui e aí esse mosquito transmitiu a doença para outras pessoas. Conde tem a maior densidade do mosquito Anopheles, transmissor da malária. Então, para quem mora lá as chances de contrair a doença são maiores do que em outras cidades”, explicou Amanda Soares, responsável técnica da Malária da SES.
De acordo com Amanda Soares, o município enfrenta o terceiro ciclo da doença, que começou a reaparecer em março deste ano. “A gente tem a concepção de que esses últimos casos que estão aparecendo são reflexos da busca ativa que os profissionais estão fazendo nas casas, principalmente onde houve casos. Tivemos pessoas diagnosticadas rapidamente e tratadas de imediato. Isso também é uma maneira de amenizar a proliferação da doença”, destacou.
Prefeita garante que não há pânico
A prefeita de Conde, Márcia Lucena, garantiu, no entanto, que tudo já foi solucionado e não há motivos para pânico. A gestora disse ao Portal Correio que um dos motivos para a desaceleração no comércio foi a forma como a notícia se propagou, principalmente nas redes sociais, por meio de ‘fake news’ (notícias falsas).
Segundo Márcia, a prefeitura não tem como impedir que notícias com conteúdo falso sejam divulgadas, mas adiantou que tudo que estava ao alcance do poder público foi e continua sendo feito.
“Quando tínhamos apenas dois casos suspeitos de malária, víamos que alguns lugares noticiavam que estávamos com 60”, recordou.
Outra causa apontada pela gestora para o desempenho abaixo do esperado é a política adotada pelo Governo Federal com cortes em áreas essenciais, como saúde e educação.
“O número de desempregados vem subindo. E esses desempregados, vão fazer turismo? O reflexo dos turistas que deixam de frequentar nossa cidade não são sentidos apenas em Conde, mas em todo o estado”, destacou.
Como se proteger
As Secretarias de Saúde do Estado e do Município estão orientando a população sobre o que deve ser feito para evitar a doença.
Cuidados
A recomendação é que a população se proteja usando repelentes, roupas claras e evitando beira de rios e áreas alagadas do início da noite até o começo da manhã.
Não doar sangue
Dentro das orientações, os moradores de Conde estão desaconselhados a fazer doação de sangue no período de um ano.
Ações da Saúde
No âmbito estadual, a secretaria vem disponibilizando técnicos qualificados para a ação de busca ativa de novos casos, realizando capacitação dos profissionais de Conde para técnica do teste rápido e coleta de lâminas. Até o momento, os resultados têm sido negativos.
Em Conde, foi realizada a busca ativa na casa onde moram os venezuelanos e todos os testes também deram negativo. As equipes da Secretaria Estadual de Saúde (SES) estão trabalhando em regime de plantão, nos fins de semana, para oportunizar a detecção dos casos, por meio de equipes no território e ainda está sendo feita ação, em nível estadual, pela Gerência Executiva de Vigilância em Saúde (Gevs), para esclarecimentos, regulação dos fluxos, nas suspeitas de novos casos.
“A SES apoia e monitora, junto ao município de Conde, as ações apresentadas, bem como permanecerá implementando demais atividades quando necessário”, disse a gerente executiva de Vigilância em Saúde, Talita Tavares.
Paraíba não é área endêmica
A Paraíba não é área endêmica para a doença, porém possui quatro espécies de vetores do gênero anophelis: anophelis aquasalis; an. albitarsis; an.bellator e an. argyritarsis.
De 1994 a 2018, foram notificados, na Paraíba, 175 casos suspeitos de malária. Destes, 70 são de pacientes residentes na Paraíba e todos foram registrados como casos importados, ou seja, pessoas que se deslocaram para regiões endêmicas, foram infectadas e retornaram para o estado de residência. Nenhum óbito foi registrado.
Por isso, a SES enfatiza que os casos em questão são os primeiros notificados na Paraíba em 2019, sendo estes autóctones (originários do local em que habita) e sem histórico de transfusão sanguínea.
PortalCorreio